PRIMEIRA PARTE
ITÁLIA, VIAGEM, MORRETES
Filho de Marco Giulio de Bona e Antonia Damian, nasceu em Igne di Longarone no dia 26/11/1857. Com a situação difícil na Itália, soube que estavam construindo uma ferrovia no litoral do Paraná – Brasil e como já tinha como ofício a construção de pontes desejou trabalhar nesta obra. Ele mesmo pagou sua passagem e saiu de Igne di Longarone rumo a "Estação Ferroviária de Belluno" viajando de trem até Genova. Embarcou no “Vapor Umberto I" com destino ao Brasil, desembarcando no Porto do Rio de Janeiro no dia 12/08/1881, declarando ser agricultor.
Da data que Antonio chegou até 1886 não temos referências, de como foi sua vida neste período...só suposições.
Presumo que realmente quis trabalhar na construção da ferrovia, mas pelos problemas de doenças tropicais, acidentes e mortes, desistiu e ficou morando e trabalhando em Morretes. Sem dúvida foram as montanhas e o Pico do Marumbi que o fizeram ficar no local, pois lembravam sua amada Igne. Seu irmão Arcangelo veio em 1883 e preferiu instalar-se em Curitiba e trabalhava como carpinteiro, fabricando desde moedores de café a rodas para carroças.
Antonio em 1886... A notícia foi no “Jornal 19 de Dezembro” do dia 7/04/1886 de Curitiba, desiludido com as promessas de uma vida digna e crescimento dele e todos os italianos que imigraram da Itália e que residiam em Morretes, tentou organizar uma manifestação durante a quaresma, mas desistindo. Nesta notícia foi relatado que era carpinteiro e que residia por 6 anos no local sem terem qualquer queixa sobre ele.
CASAMENTO COM THERESA LUCINI
Casou na "Igreja Matriz de N. Sra do Porto de Morretes" com Theresa Lucini (com 21 anos), no dia 23/06/1887, filha de João Lucini (viúvo de Antonia Crotte), imigrante italiano que veio para o Brasil com os cinco filhos, chegando a "Colônia Nova Itália" no dia 5/05/1877.
Entre 1887 a 1891 só tivemos dados de aonde moravam pelo primeiro registro encontrado em Morretes, de seu filho Marcos*16/01/1891 que meia hora depois de nascer, faleceu. Neste registro é relatado que morava em Curitiba e que estava a passeio em Morretes, provavelmente visitando a família Lucini, de sua esposa.
Em 1892 Antonio e Theresa (grávida) mudam-se para Morretes. Nasce sua filha Margarida *23/01/1893, falecendo 2 horas depois.
Em 8/ 04/1893 entrou em vigor a lei de “Regulamento de registros de terras”, no artigo cento e dez referia-se a que todos os donos de terras regularizassem as suas terras, mesmo que compradas décadas antes, registrando - as. Antonio no dia 27/12/1893 registrou as terras que comprou de Luis Cavagnari e sua esposa Angela Bassani, depois conhecida pelo “Engenho dos de Bona” como também “Campo dos de Bona”, não está declarado no registro em que data ou ano a compra foi realizada.
Antonio tinha nestas terras um engenho aonde fabricava açúcar, aguardente, construía e fazia a manutenção de tonéis e peças em cobre para os alambiques da região. Ao lado tinha a sua casa e plantação de cana de açúcar.
Luis seu filho nasce no dia 30/10/1894 e viveu só por 1 hora. No registro Antonio declarou que moravam em Morretes.
Em seguida encontramos uma nota do Jornal “A Republica” do dia 30/12/1894 da Junta Comercial sobre a abertura de firmas entre o dia 1/11/1894 até a data da publicação, entre elas está uma em Morretes ”Cavagnari & De Bona” com fabricação de açúcar, aguardente e álcool, pelo prazo de 7 anos.
No dia 10/01/1896 falece ao nascer sua filha em Morretes, não sendo colocado o nome no registro.
Neste mesmo ano, Antonio pede ao órgão responsável do governo a medição das terras que comprou.
O ano de 1897 foi muito difícil para a família, sua esposa Theresa engravida novamente e foi para Curitiba para se tratar depois de tantas perdas, com o Dr. Victor Ferreira do Amaral, o melhor médico da época. No dia 29/09/1897 nasce seu filho Francisco João. Theresa teve complicações após o parto permanecendo no hospital por 36 dias, até o seu falecimento no dia 6/11/1897, com apenas 31 anos. Foi sepultada no Cemitério Municipal São Francisco de Paula de Curitiba.
No cartório quem declarou o óbito de Theresa, foi seu cunhado Arcangelo. Era casado com Elvira Bolsoni, poucos meses antes do ocorrido havia nascido o filho do casal de nome Antonio Pedro. No estado de desespero que encontrava-se Antonio, sua cunhada se dispôs a amamentar e criar Francisco João (Francisquinho). Foi batizado na Igreja Matriz de N. Sra. da Luz dos Pinhais em Curitiba, no dia 7/02/1898. Desde pequeno até a fase adulta estava sempre em contato com o pai, indo frequentemente à Morretes mas continuou morando com os tios até se casar.
Antonio de Bona e Theresa Lucini De Bona tiveram 5 filhos, sendo que 4 faleceram logo após o nascimento.
Antonio volta a residir em Morretes. No Jornal “A Republica” do dia 16/09/1898 ele requer a posse e medição das terras...”..., Antonio de Bona, requereram ao mesmo comissário a medição de suas terras, sitas no munícipio de Morretes; na hypothese afirmativa, em que datas se justaram as respectivas petições os seus títulos de propriedade, si pagaram ás custas das medições, qual a importância paga e o estudo dos respectivos processos”. No ano seguinte com nota no mesmo jornal datado de 18/02/1899, sobre o requerimento de medição e demarcação das terras “ Em relação a Antonio de Bona: requereo em 22 de Agosto, marquei no dia 28 de Outubro de 1896 sendo o mês de Agosto do dito anno, fiz o serviço de campo, recebi 20$000, não querendo também pôr á minha disposição, os marcos, como determina a lei, retirou os documentos passando o recibo. Francisco Pio Pedro” (agrimensor).
REGISTRO DAS TERRA DE ANTONIO DE BONA 1893
No final de 2014 conversando com a prima Ligia de Bona Carvalho, ela me mostrou que seu pai Marcos Luiz, apaixonado por Morretes e o filho mais novo de Antonio de Bona, tinha entre seus guardados, fotos, documentos e inúmeros recortes de jornais sobre a sua terra querida. Entre eles, havia uma anotação escrito “IMPORTANTE” e outra com o número do protocolo.Um lembrete para pagar por certidões que havia pedido a Rogério Bacellar.A primeira refererente a “ Certidão da Escritura Pública” das terras possuídas por Antonio de Bona em 27/12/1893, aonde residia e tinha o engenho, local conhecido hoje por “O Campo dos de Bona”, dando como data 10 de dezembro de 1893 e com as especificações da localização. A segunda das terras compradas posteriormente de Zulmira e Francisca Polydoro, no local conhecido como “Marambaia”.Que a família tenha conhecimento, estes documentos não chegaram as mãos do tio Marcos Luiz.
Então a pedido da prima Ligia me propus a procurar, como também adicionar dados para as minhas pesquisas. A escritura de 1917 foi fácil, fui e dei os dados no Tabelionato de Morretes e pedi uma procura para saber se estavam certos, e em poucos dias o documento me foi entregue, aonde contarei na segunda parte da vida de Antonio...
A escritura mais antiga foi uma jornada...cartórios de Morretes e Fórum, pois talvez tivesse sido realizado o inventário dele, me disseram que naquela época talvez fossem feitos os registros de terras de Morretes na cidade vizinha, Antonina. Então entrei em contato com os cartórios, tabelionato, Câmara, Fórum de lá, fui informada que muita documentação antiga fora incinerada, não mencionando que ano e quem autorizou e que só haviam documentos posteriores a 1960.Procurei por alguma informação sobre as terras de Morretes incansavelmente, por quase 3 anos no Arquivo Público e tive um imenso apoio. As pessoas que me auxiliaram e as que hoje continuam me ajudando, estão sempre atentas com os sobrenomes de tantas famílias, que eu insisto em encontrar.
Há cerca de um mês, a atual responsável de pesquisas me mandou um e-mail...”Achei as terras do Antonio de Bona!!”.Em um livro muito antigo e grande, que era de difícil manuseio, por este motivo não tinham feito a procura nele ou me entregue para que eu pudesse lê-lo. Me explicou que estavam para começar a digitalização em um scanner novo para livros de grande porte.
E aqui está a o Registro das terras do meu bisavô, realizado a 124 anos.
Obs. Reescrevi o registro na íntegra, com as palavras do mesmo modo que eram escritas na época, para melhor compreensão de todos.
LIVRO DE REGISTRO DE "TERRAS DA VILLA DE MORRETES DO ANNO DE 1893 "
Número trinta e um
Registro das terras pertencentes a Antonio de Bona, na conformidade das declarações em duplicata, que por ele me foram apresentadas com o registre-se do segundo Juiz Districtal em exercício, cidadão Sebastião Francisco Grillo. O abaixo assignado vem apresentar as declarações em duplicata para o registro das terras que lhe pertencem, situadas neste Districto, de acordo com o disposto no Regulamento de oito de Abril do corrente anno.Nome do possuidor, Antonio de Bonna; origem da propriedade, compra feita a Luis Cavagnari e sua mulher Angela Cavagnari; nome da propriedade, não tem nome algum particular; área, ignorada; limites, limita-se pelos fundos com a estrada de ferro; pela frente com a estrada do Anhaia; pelo lado de cima com o leito antigo do rio Marumby; e pelo lado de baixo com a linha do engenho, servindo aqui de divisa a parede de um portão junto ao engenho; nome do confrontante, Luis Cavagnari; numero de hectares de terras cultivadas, ignorado; rio queas limita, o rio Marumby, pelo antigo leito; estrada a que as limitam, a estrada do Anhaia e a estrada de ferro; vallo que as banha, o vallo d’agua motora do engenho; espécies de cultura, canna; edifícios e construções existentes, engenho de aguardente movido a agua; mercado de destino...de destino dos produtos, a cidade de Morretes, distância aproximada da cidade citada, quinhentos metros.Por sobre uma estampilha do valor de duzentos reis, acham-se a data e assinatura seguintes: Morretes, vinte e sete de Dezembro de mil oitocentos e noventa e três. Antonio de Bonna. A margem: Registre-se. Morretes, vinte e sete de Dezembro de mil oitocentos e noventa e três. S. Grillo. Era o que continham as declarações em duplicatas que me foram apresentadas pelo possuidor das terras, Antonio de Bonna, hoje as doze horas do dia, para serem registradas na conformidade do artigo cento e dez do Regulamento de oito de Abril do corrente anno; as quais me reporto, e donde bem e fielmente para aqui extrahi o presente registro, que depois de conferido com os referidos originais, entrego um destes ao registrante, ficando outro archivado no cartório a meu cargo; do que tudo dou fé.Em firmesa do que assigno o presente, que confere, nesta cidade de Morretes, em 27 de Dezembro de 1893.O Escrivão interino do Juizo Districtal José Gonçalves de Moraes.
Obs. Estampilha = Selo de registro, para autenticidade do proprietário das terras e para o Estado.
Referências:
- Registro da Comune di Longarone (nascimento de Antonio de Bona)
- Gioconda de Bona Moraes com Aquiles (seu esposo) e Marli (de Bona) Angelote (Fotos da casa aonde Antonio nasceu em Igne di Longarone) - Igreja Matriz de Nossa Sra. Do Porto de Morretes (Registro de casamento de Antonio e Theresa)
- Foto de Theresa Lucini de Bona, Cemitério S. Francisco de Paula em Curitiba.
- Quadros de Theodoro de Bona retratando parte do “Engenho dos de Bona”
- Ligia de Bona Carvalho (Lembretes de seu pai Marcos de Bona sobre escrituras das terras adquiridas por Antonio de Bona)
- Arquivo Público do Paraná - Maurenn Elina Javorki - Coordenadora e historiadora de Pesquisa do DEAP (Livro de registros de terras da Vila de Morretes de 1893, referência no Arquivo Público, livro rt 68 página 28 e 39 registro 31.)
Sites:
- SIAN - Arquivo Nacional- Resposta afirmativa da chegada do vapor em que veio Antonio de Bona
- Biblioteca Nacional Digitalizada - http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ (sobre as terras :Jornal 19 de Dezembro de 1886 e A Republica de 1894,1896 e 1898)
- Family Search - https://familysearch.org/search/ (Livros dos cartórios de Curitiba e Morretes sobre nascimentos, óbitos e registros de imigrantes da Colônia Nova Itália de Morretes,1877)
Antonio de Bona
Documento de filiação e data de nascimento de Longarone
Casa aonde Antônio nasceu, fotos Gioconda de Bona Moraes com Aquiles (seu esposo) e Marli (de Bona) Angelote
“Jornal 19 de Dezembro” do dia 7/04/1886
"Colônia Nova Itália", família Lucini chegou em 5/05/1877
Casamento religioso de Antônio de Bona com Theresa Lucini em 23/06/1887, em Morretes
Theresa Lucini de Bona ( 1866 - 1897)
Francisco João de Bona (Francisquinho)
Dr.Victor Ferreira do Amaral
Engenho da família "de Bona". Quadro de Theodoro de Bona realizado em 1922 e sua assinatura
Lembretes de Marcos Luiz de Bona, sobre as terras adquiridas por seu pai
Registro do livro "Terras da Villa de Morretes de 1893",sobre as terras adquiridas por Antônio de Bona em 27/12/1893